Manifestação da Ciranda - Comunidade e Cidadania na Audiência Pública de 03/10/2015



Bom dia a todos.

Falo em nome da Ciranda, que congrega 14 associações de moradores da área da Subprefeitura de Santo Amaro, e mais duas da Sub de Pinheiros.

Depois de meses de empenho, incontáveis reuniões e debates, e várias audiências públicas, há muito pouco a acrescentar ao que já dissemos e ao que já solicitamos. Com certeza, ninguém aqui ficará plenamente satisfeito, porque em uma cosmópole é mesmo impossível agradar plenamente a gregos e troianos. 

Mas uma sociedade cosmopolita só será equilibrada se houver respeito e civilidade entre seus membros, algo que infelizmente não se produz quando  interesses particulares se sobrepõem ao bem comum.

Em uma sociedade em que prevaleça o interesse individual, ou de apenas certos setores, jamais chegaremos a um estado de justiça social e de ética.

O que nos resta neste momento é contar com o bom-senso e o sentido de justiça social de nossos legisladores, muitos dos quais, queremos crer, de fato zelam pela cidade e têm consciência da responsabilidade que o mandato lhes confere.

Não vou falar novamente em casos específicos, esse momento já passou. Todo mundo já ouviu. Todo mundo já entendeu o que se propõe para bairros como Vila Madalena, Lapa, Morumbi, Chácara Santo Antonio. Todo mundo assistiu aos argumentos de entidades, e de pessoas individualmente, pró e contra o que nos parece um plano que ainda tem muito a amadurecer. E todo mundo já entendeu o que move muitas das propostas mais incômodas. Agora, senhores vereadores, esperamos a devolutiva aos pleitos formulados. E depois de assistir a embates, nem sempre elegantes, nestas audiências, mas ainda na esperança de que esta nossa cidade não seja tratada como objeto de barganhas, quero propor algumas sugestões para a reflexão de todos nós.

Trocando em miúdos, deixo aqui um sentimento de esperança:

•    Esperança de que no substitutivo a ser elaborado pela egrégia Comissão de Política Urbana, o bem coletivo esteja sempre acima de interesses particulares;
•    que bairros consolidados não sejam abalados para atender a uns e outros na busca pela valorização de seu próprio patrimônio, em detrimento de toda a vizinhança;
•    que aqueles que não estão satisfeitos em seu bairro, pela falta de serviços ou de comércio, se mudem para os outros tantos locais em que essas atividades são permitidas, ao invés de tentar adequar o entorno às suas necessidades ou a seus desejos particulares;
•    que as pessoas que construíram seu bairro, e lá querem permanecer, não sejam expulsas de seu lugar devido a um adensamento construtivo e populacional, para, perversamente, dar espaço a novos habitantes que nem se sabe de onde virão, nem SE virão;
•    que as populações carentes sejam atendidas com programas habitacionais em seus locais de origem, onde já estabeleceram relações sociais e comunitárias; e que a lógica de uma estruturação urbana competente, com criação de empregos, infraestrutura e serviços, leve à consolidação desses centros.
•    que esta nova lei de uso e ocupação do solo olhe também para cima e para baixo, para o espaço aéreo e para o subsolo, e que reconheça o equívoco histórico que levou nossa cidade a esconder seus rios e seus córregos, e a derrubar matas plenas de fauna como se fossem entraves ao desenvolvimento.
•    que o alerta do clima, sempre ignorado, finalmente desperte nossos legisladores, para que o asfalto dê espaço a novos parques e novas praças, com mais carinho e respeito pela vegetação, que é fonte de vida, criando áreas de convivência que poderão amenizar a tensão e o estresse que marcam os paulistanos.

E para dar o exemplo, esperamos que este PL não seja discutido sem o suporte dos Planos de Mobilidade e de Habitação indispensáveis para que lei tenha consistência. E principalmente, dos Planos Regionais que tanto reclamamos, e que, segundo consta, vêm sendo desenvolvidos discretamente em gabinete, sem que o cidadão comum possa cobrar das autoridades a postura civilizadora e responsável de colocar o bem comum à frente dos cifrões que lamentavelmente têm governado esta cidade.
 
Senhores vereadores, ao final de um ano de trabalho, em que a sociedade civil tentou arduamente dar corpo ao que deveria ser um processo plenamente participativo, a mensagem da Ciranda é pela pacificação, porém com justiça e consideração por aqueles que se submetem à lei, respeitam a ordem e o bem comum, e promovem a verdadeira cidadania.

Que os anjos e os arcanjos nos socorram.

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